Ano bem vivido esse. Quando digo isto não quero dizer que alcancei tudo o que queria nem que ele tenha sido tudo mil maravilhas. Quando digo bem vivido, quero dizer que eu estava presente em todos os momentos que passei. Nos felizes e nos não tão felizes assim. Pode parecer estranho esta afirmação mas pra mim faz muito sentido. Às vezes passamos por experiências, mas sem vivê-las profundamente. Ficamos na superficialidade; na ilusão de que assim ela talvez doa menos. Ilusão. Vivê-la com toda dor ou alegria que ela propicia nos faz sair delas mais fortes e inteiros. Pelo menos comigo funciona assim. Como diz nosso amigo Robertão (pq a esta altura da vida, ele É nosso amigo) : se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi. Nada mais aterrorizante pra mim que uma vida bege, sem altos e baixos, sem emoções. São elas que dão cor na nossa vida, que fazem dela interessante, que a fazem valer à pena.
Deixando a pieguice de lado, voltemos ao foco da questão. Fim de ano. Como bem disse, bem vivido. Isto requer recarga de baterias urgentemente! Parece que a pilha vai acabando, né? Estava eu sentada no aeroporto aguardando meu vôo pra BH entre manifestantes ameaçando greve e avisos óbvios de atrasos nos embarques quando minha mãe ligou perguntando se já estava saindo. Eu estava de jejum, por pura falta de administração do tempo e ela me falou que iria me esperar em casa com os meus pratos prediletos! Imediatamente desisti de comer qualquer pão de queijo que estragasse meu apetite e decidi esperar chegar em casa pra atacar!
Conhecendo meu histórico no blog, vocês devem estar imaginando um prato super sofisticado com requintes de preparo e temperos exóticos e diferentes. Pois bem, lá vai: Meu prato predileto é feijão, arroz, carne moída e banana amassada. Mas tenho que explicar que não é qualquer feijão. É o feijão batidinho com aquele tempero caseiro que não tenho a menor idéia de como fazer! E tem que ser como na foto. Na panela. Se não, não tem graça.
O vôo atrasou. Claro! E vale avisar aos que ainda não conhecem BH, que o aeroporto fica longe, muito longe, de qualquer lugar ou bairro que você possa imaginar. Mais uma hora até eu chegar à minha casa. Já eram três da tarde quando o taxi parou na porta e vi minha mãe na varanda do quarto no segundo andar. Ela já tinha me ligado umas duas vezes no caminho pra saber a hora certa de esquentar a comida. Minha avó estava como eu a havia deixado no feriado de novembro. Sentada em sua cadeira, com duas blusas de frio e um cobertor, inconformada comigo que chegava de regata sem nenhum casaquinho. Minha irmã tinha saído mais cedo do trabalho só pra almoçar comigo e pela cara dela, estava tão esfomeada quanto eu. Eis que estávamos as mulheres da família, três gerações; minha avó, minha mãe, eu e minha irmã ao redor dos meus pratos prediletos. Estava em casa. Era um fato, era real. Esta sensação ninguém consegue tirar da gente. É indescritível. Posso morar há dez anos em São Paulo; mas sentei naquela mesa e estava em casa. Arroz, feijão, carne moída e banana!
Acham que o presente estava finalizado? Eis que surge a famosa baba de moça. Esta é uma receita da minha outra vó. Vovó Maria. Vocês tinham que ter conhecido ela! Cozinheira Mineira de mão cheia! Quando eu era pequena e ela vinha me perguntar o que eu queria de aniversário eu falava: Baba de Moça. Como podem ver eu era gulosa desde sempre! Depois que ela se foi ninguém conseguiu reproduzir a receita como ela fazia. Por isto este dia foi tão especial. Finalmente conseguiram!!!!!! Estava de chorar!!!!! Nem precisa falar que eu repeti. Seria pleonasmo…
Eis que minha mãe conseguiu o inimaginável. Recarregar minhas baterias na primeira hora que cheguei em casa. Era tudo que eu precisava depois de tudo que tinha passado nos últimos dias. Avó, Mãe, Irmã, arroz, feijão, carne moída, banana e baba de moça.
Obrigada, mãe.