DIA 06 – sábado
Com o passar dos dias percebemos que nosso personagem Aristides não
era muito bem quisto na ilha. Às pessoas sempre nos perguntavam alegres e curiosas
onde estávamos hospedadas e ante a resposta do nome da pousada, o sorriso se
esvaía seguido de um Ah ensurdecedor. Nem precisa perguntar o porque, né?
Conseguimos com uma das inimizades de Aristides uma lancha rápida
exclusiva pra nós quatro para todo o dia. Nosso queridíssimo marinheiro se
chamava Beto e era uma flor de pessoa. Extremamente educado e preocupado com
nosso bem estar.
Camila mostrou que seu medo pelo ar se estendeu pro mar e grudou nas
barras da lancha como se sua vida dependesse daquilo. O desespero à cada batida
de onda era cômico. Foi mal, Ca; mas era mesmo. Era muita bobagem pra uma
lancha só. Narcisa; ops desculpe; Carina não parava de gargalhar e em uma
altura tentando se retratar soltou a pérola: “Me desculpe, é que estou bêbada de
felicidade”. Eita coisa boa. Mas o perrengue de Camila não durou muito. Aos
poucos ela foi se acostumando e logo logo estávamos nas piscinas naturais.
Passamos por Murerê e seguimos direto para a vila de Boipeba. Beto, nosso
marinheiro, nos falou pra ficarmos tranquilas e explorarmos o lugar o tempo que
quiséssemos. Precisávamos apenas voltar antes do anoitecer.
Seguimos então para a vila e logo percebemos que se restringia a duas
ruas e muito pouca coisa pra ver. Nas incursões de Carina sobre a vida das
pessoas acabamos conhecendo o médico da cidade. Quanta ironia. Ele dois dias
antes teria vindo muito mais a calhar. Brincadeiras à parte ele foi muito
prestativo. Além de nos contar da vida dele e das dificuldades da vida de um
médico em uma vila como aquela, ele também nos mostrou um caminho através de
trilhas para as praias mais afastadas. Foi dele a célebre frase: “É só dizer
não uma vez que Fudeu a Bahia!”. E com essa lá fomos nós. A trilha era toda de
areia. Estranhei por não ver o mar. Tinham várias bifurcações no caminho e nos
questionamos algumas vezes se estávamos na direção certa. Mas confiamos no
instinto e saímos em uma praia paradisíaca.
Nada de um lado e nada do outro.
Apenas o restaurante do Guido no meio. Já tínhamos ouvido falar dele e nosso
estômago agradeceu depois de uma longa caminhada. Figurinha o tal do Guido.
Apareceu com umas revistas de turismo e aventura com reportagens sobre o
restaurante; falou dos artistas e de gente famosa da globo que passa por lá e
quando achamos que já tínhamos ouvido tudo ele aparece com uns porta-retratos
com fotos dele com gente famosa que nunca vi na vida. Tenho que admitir, Guido
estava ali se esforçando ao máximo no marketing e relações públicas. Nota 10!
As lagostas do lugar são as mais famosas então fomos direto nelas.
Apesar de apreensivas com o que comer respiramos fundo e enfrentamos o bicho!
Delicinha; mas só conseguia pensar na sobremesa. Tenho que admitir que fui bem
contida no feriado. Fora o crepe de Nutella com banana; até que consegui me segurar
bem no que se referia aos doces. Mas o cardápio praticamente gritava brigadeiro
de coco, brigadeiro de abacaxi com coco, cocada, queijadinha.... Estava difícil
resisitir e decidir. Camilinha foi logo falando “Na dúvida peça os dois”. E
fui. Com a cara e a coragem e pedi os dois. Seguimos então o que já era nossa
rotina a esta altura do campeonato. Cochilo, mar e caminho de casa.
A volta pelas praias se mostrou maravilhosa e valeu por toda a viagem.
Cada canto era bonito e intocado. A sensação de que estávamos sozinhas o tempo
todo era única. Mas ainda bem que não estávamos. No fim de uma das praias não
conseguíamos ver forma de atravessar que não fosse pelas pedras. Começamos a
subir mas a combinação havaianas e pé molhado não estava ajudando. Eis que veio
um casal pisando firme e entrou na mata. Nos entreolhamos e imediatamente
pensamos a mesma coisa. Devem achar que somos loucas subindo por estas pedras!
Deve ter uma trilha por dentro da mata! E lá fomos nós seguir o casal resoluto!
A trilha era linda! E passava ora na mata, ora pela praia. Tiramos fotos de
tirar o fôlego e não cansávamos de agradecer pelo dia que estávamos tendo.
Quando começamos a questionar novamente se estávamos no caminho certo
percebemos que tínhamos dado toda a a volta na ilha e encontrado Beto pelo lado
oposto. Ele estava lá, como aquela tranquilidade baiana inabalável. Tomamos um
banho de rio e subimos na lancha de volta! O retorno pelo rio foi um presente
no fim de tarde. Os mangues, a água lisa de um azul profundo, o labirinto de
caminhos... Às vezes a gente se esquece de como o Brasil é bonito.
Quase chegando no píer, Camila teve a brilhante idéia de perguntar a
Beto se ele poderia nos deixar na Ponta do Mutá ao invés do Cais. Fomos
prontamente atendidas e em dois minutos estávamos lá. A Ponta do Mutá é
conhecida por ter o por do sol mais bonito da região. Eu sei, eu sei. Falei
disto todos os dias; mas tinha melhor forma de fecharmos nosso último dia do
que com isto? E os boatos eram verdade. Quase dava pra ouvir o som do sol se
pondo. De matar! Fomos pra pousada de alma lavada!
Depois do banho, todas sentiram o peso do dia. Estávamos destruídas do
sol e das batidas do barco. Minha coluna já chiava de novo e Camilinha estava
com o braço direito vermelho como pimentão. Entre ais e uis fomos jantar
implorando por uma cama.