domingo, 5 de fevereiro de 2012

Quando a companhia fala mais alto


Às vezes fico me perguntando se é uma questão de sabor ou de companhia. Pra mim o ato de comer bem tem a ver com tempo. Tempo para saborear. Não é algo que dá pra se fazer com pressa ou num drive-thru. Posso me contradizer no futuro, claro; mas a princípio não me imagino chorando por uma comida dentro do carro correndo para um compromisso. E quando se tem tempo para apreciar uma boa refeição normalmente não estamos sozinhos.

Tive um fim de ano complicado e um início cheio de adaptações. Enquanto minha vida estava em suspenso era como se meu paladar também estivesse. Saí pouco pra comer e mesmo quando saí e fui a belos restaurantes, me parecia que faltava algo. Nada tinha graça.

A vida foi se ajeitando e conforme tudo ia voltando ao normal meu apreço pela comida também. Às vezes quando tudo parecia muito complicado me perguntei se iria rir novamente e se ao mesmo tempo iria alguma vez chorar por uma comida de novo.

Quando parei de focar o passado e me concentrar no futuro foi como se uma página tivesse virado. Não que as coisas difíceis tenham sido esquecidas. Estavam lá... No meio do livro da vida. Mas um novo capítulo estava se iniciando.

Ir ao Tantra, que foi meu último blog, me fez ver que havia luz no fim do túnel.  Mas foi em um encontro de domingo, em um dia lindo, sem nenhuma nuvem no céu que finalmente ri de novo. Nada como amigas que nos façam gargalhar de pura bobagem.

O restaurante se chama Ruaa (isto mesmo, com dois “as”) e fica no miolo da Vila Madalena. Estava cheio quando chegamos e sentamos no bar. O local é pequeno, o que adoro. Deixa tudo despretensioso e aconchegante. Comecei a colocar o papo em dia entre cervejas e caipirinhas (com pinga mineira, claro). 

É engraçado quando conseguimos ver na fisionomia dos amigos que todos passam por momentos de coração apertado, solidão, dor de cotovelo ou medo do futuro. Olhamos uma pras outras com aquele suspiro que diz mais que mil palavras. E naquele momento, sem mais, minha amiga Camila solta: Vou beber champagne. 

A mensagem foi passada e um enorme sorriso saiu daqueles rostos apreensivos. Era isto que importava. Estávamos ali. Entre amigos. O dia estava lindo, com pessoas que amamos ao redor, com a certeza que não importava se tudo daria certo ou não. Estávamos ali. Entre amigos. E naquele momento, nada mais importava.

O cardápio era tentador e o atendimento primoroso. Fomos atendidas pela Vitória; quer nome melhor e mais promissor que este? Começamos com o espetinho de camarão e legumes e uma outra entrada que óbvio não vou lembrar o nome. Mas a foto fala por si só. Nhami. Mas o melhor era o molho que acompanhava. É engraçado que conforme o clima ia ficando cada vez mais leve o que pedíamos também.

Como prato principal escolhi as mini lulas recheadas de camarão, com risoto de limao. E foi no meio da refeição falando sobre trivialidades que caí na gargalhada. Devo confessar, que a sensação de estar inteira de novo foi arrebatadora e foi então que o sabor da lula com o risoto me fez derreter. Sim, eu estava de volta.  

E já que eu estava de volta por que não fechar com chave de ouro e pedir uma sobremesa caprichada? Lá fomos nós! Camilinha pediu o tradicional Petit Gateau, a outra Camilinha (sim são duas) pediu um churros com brigadeiro. Eu não resisiti e pedi um churros com doce de leite.

Adoro quando as pessoas se preocupam com a apresentação do prato. O churros veio em um potinho feito de papel de padaria super charmoso.



E foi assim em um encontro que parecia trivial e despretensioso que me reencontrei. 

Me vem então à cabeça o início do blog. Sentiria o mesmo pela comida se estivesse sozinha ou com outras companhias? Sinceramente não sei. Não quero tirar o mérito do restaurante. É maravilhoso, for sure! Mas devo dizer hoje que as companhias eram mais. Obrigada meninas pela tarde deliciosa.


Onde: Ruaa
Endereço: Rua Mourato Coelho, 1168 - Vila Madalena
Site: www.ruaa.com.br