Às vezes fico me perguntando se é uma questão de sabor ou de
companhia. Pra mim o ato de comer bem tem a ver com tempo. Tempo para saborear.
Não é algo que dá pra se fazer com pressa ou num drive-thru. Posso me
contradizer no futuro, claro; mas a princípio não me imagino chorando por uma
comida dentro do carro correndo para um compromisso. E quando se tem tempo para
apreciar uma boa refeição normalmente não estamos sozinhos.
Tive um fim de ano complicado e um início cheio de
adaptações. Enquanto minha vida estava em suspenso era como se meu paladar
também estivesse. Saí pouco pra comer e mesmo quando saí e fui a belos
restaurantes, me parecia que faltava algo. Nada tinha graça.
A vida foi se ajeitando e conforme tudo ia voltando ao
normal meu apreço pela comida também. Às vezes quando tudo parecia muito
complicado me perguntei se iria rir novamente e se ao mesmo tempo iria alguma
vez chorar por uma comida de novo.
Quando parei de focar o passado e me concentrar no futuro
foi como se uma página tivesse virado. Não que as coisas difíceis tenham sido
esquecidas. Estavam lá... No meio do livro da vida. Mas um novo capítulo estava
se iniciando.
Ir ao Tantra, que foi meu último blog, me fez ver que havia
luz no fim do túnel. Mas foi em um
encontro de domingo, em um dia lindo, sem nenhuma nuvem no céu que finalmente
ri de novo. Nada como amigas que nos façam gargalhar de pura bobagem.
O restaurante se chama Ruaa (isto mesmo, com dois “as”) e
fica no miolo da Vila Madalena. Estava cheio quando chegamos e sentamos no bar.
O local é pequeno, o que adoro. Deixa tudo despretensioso e aconchegante.
Comecei a colocar o papo em dia entre cervejas e caipirinhas (com pinga
mineira, claro).
É engraçado quando conseguimos ver na fisionomia dos amigos
que todos passam por momentos de coração apertado, solidão, dor de cotovelo ou
medo do futuro. Olhamos uma pras outras com aquele suspiro que diz mais que mil
palavras. E naquele momento, sem mais, minha amiga Camila solta: Vou beber
champagne.
A mensagem foi passada e um enorme sorriso saiu daqueles
rostos apreensivos. Era isto que importava. Estávamos ali. Entre amigos. O dia
estava lindo, com pessoas que amamos ao redor, com a certeza que não importava
se tudo daria certo ou não. Estávamos ali. Entre amigos. E naquele momento,
nada mais importava.
O cardápio era tentador e o atendimento primoroso. Fomos
atendidas pela Vitória; quer nome melhor e mais promissor que este? Começamos
com o espetinho de camarão e legumes e uma outra entrada que óbvio não vou lembrar o nome. Mas a foto fala por si só. Nhami. Mas o melhor era o molho que
acompanhava. É engraçado que conforme o clima ia ficando cada vez mais leve o
que pedíamos também.
Como prato principal escolhi as mini lulas recheadas de
camarão, com risoto de limao. E foi no meio da refeição falando sobre
trivialidades que caí na gargalhada. Devo confessar, que a sensação de estar
inteira de novo foi arrebatadora e foi então que o sabor da lula com o risoto
me fez derreter. Sim, eu estava de volta.
E já que eu estava de volta por que não fechar com chave de
ouro e pedir uma sobremesa caprichada? Lá fomos nós! Camilinha pediu o
tradicional Petit Gateau, a outra Camilinha (sim são duas) pediu um churros com
brigadeiro. Eu não resisiti e pedi um churros com doce de leite.
Adoro quando as pessoas se preocupam com a apresentação do
prato. O churros veio em um potinho feito de papel de padaria super charmoso.
E foi assim em um encontro que parecia trivial e
despretensioso que me reencontrei.
Me vem então à cabeça o início do blog.
Sentiria o mesmo pela comida se estivesse sozinha ou com outras companhias?
Sinceramente não sei. Não quero tirar o mérito do restaurante. É maravilhoso, for
sure! Mas devo dizer hoje que as companhias eram mais. Obrigada meninas pela
tarde deliciosa.
Onde: Ruaa
Endereço: Rua Mourato Coelho, 1168 - Vila Madalena
Site: www.ruaa.com.br